Especial – Nações: Alemanha – O Casamento de Maria Braun (1979)

O Casamento de Maria Braun (Die Ehe der Maria Braun, 1979)

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A cena de abertura de O Casamento de Maria Braun já resume o que veríamos a seguir: uma interessante parábola política  sobre a decadência da Alemanha pós-guerra através de uma personagem fadada à tragédia com toques de um humor bastante particular por parte de seu realizador. Maria parece desesperada para casar, enquanto tudo vai desmoronando ao seu redor, restando apenas sons de sirene e o desespero ecoando em nossas mentes. Isso já diz muito sobre a obra em si.

Realizado por Rainer Werner Fassbinder, o filme mostra a ascensão e a queda de uma mulher forte e livre, mas que parece que teve seu espírito quebrado pela guerra. Maria Braun faz parte da trilogia que mostra toda complexidade e contradições da Alemanha pós-guerra (representação através de três mulheres): Maria Braun, Veronika Voss e Lola.

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ANÁLISE PROFUNDA – O Menino e o Mundo

O Menino e o Mundo (2013)

O Menino e o Mundo título

Uma das características mais marcantes da animação é a sua capacidade quase ilimitada de transgredir as imposições do tempo, da física e da matéria. Da massinha maleável do stop-motion às formas mutáveis do desenho animado, os diferentes corpos podem ser esticados, comprimidos, deformados e mesmo redesenhados. Uma absoluta liberdade de metamorfose, concomitante, por sua vez, a uma empolgante liberdade de mise-en-scéne: os corpos desafiam a física e a gravidade; caem, saltam, voam, sem um mínimo de esforço ou sacrifício, na quase totalidade do espaço (e tantas vezes de maneira tão irreverente e encantadora). Por fim, temos a oportunidade de concepção de um mundo inteiramente novo, o qual, a despeito das referências à realidade física, mantém-se aberto a todas as possibilidades da fantasia e da imaginação a partir da impetuosidade criativa do lápis, da massinha ou do computador. A animação, portanto, torna-se uma técnica revolucionária em muitos sentidos, e é uma pena, inclusive, que cineastas que já tanto tematizaram a linguagem cinematográfica ainda não se detenham nas transgressões e peculiaridades dessa variante do Cinema em si.

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ILEGAL – A VIDA NÃO ESPERA

O Cinema, forte propulsor de debates e embates dentro da sociedade, tem um compromisso com assuntos de utilidade pública, assim como o Identidade Cinéfila – não procuro, com o texto abaixo, realizar doutrinamentos nem um comprometimento de todos os que trabalham no site.

Em Caruaru, o grupo de mídia alternativa Átona Mídia realizará no próximo sábado a exibição do documentário Ilegal – A Vida Não Espera.

A exibição do material está acontecendo em diversas cidades do país, e muitas delas são acompanhadas por debates de cunho sócio-político.

Abaixo, o informativo emitido pelo mesmo coletivo. Não deixem de lê-lo e compartilhá-lo nas redes sociais. Esse tema não pode ser ignorado, vidas dependem dele!

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ANÁLISE PROFUNDA – Frida, Natureza Viva

Frida, Natureza Viva (Frida, Naturaleza Viva, 1986)

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Analisando do âmbito mais comercial do Cinema, a biografia de Frida Kahlo é sem dúvidas uma das mais cinematográficas da América Latina e, certamente, do mundo. Artista singular, sensível e evocativa, filha da Revolução Mexicana, parceira de um dos maiores expoentes do muralismo mexicano e, por fim, vítima de poliomielite, graves acidentes, abortos, traições e ainda sobrevivente a múltiplas cirurgias (uma delas, inclusive, responsável pela amputação de uma perna), Frida Kahlo é um prato cheio para qualquer cineasta interessado em construir uma cinebiografia carregada de cores, paixões e tragédias, todos de forte apelo ao grande público. Desse modo, não deixa de ser interessante e revigorante que um cineasta decida investir nas dolorosas e sutis nuances da vida e obra da pintora, em detrimento dos acontecimentos mais explosivos de sua biografia. Esse é o feito de Paul Leduc em seu “Frida, Natureza Viva”, longa que aparentemente se inspira na singularidade de Frida Kahlo, ao construir uma obra desprovida de convenções narrativas e permeada de extrema sensibilidade e paixão. Continuar lendo

Especial – Nações: Alemanha – Paris, Texas (1984)

Paris Texas, de Wim Wenders (1984)

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Essa é a história do difícil relacionamento entre um plano geral e um close. O plano geral deseja diluir suas personagens na imensidão de uma paisagem ou de um cenário que quase ultrapassam os limites do quadro, e nosso próprio olhar se perde perante essa imensa amplitude, perspectiva e riqueza. O close, por sua vez, deseja confinar suas personagens nos limites da moldura, não possibilitando quaisquer oportunidades de fuga; o rosto está ali, na totalidade de seus poros e nuances, e nós, inevitavelmente, devemos encará-lo. Quão grande, portanto, é o atrito entre essa diluição quase abstrata de uma personagem e a moldura quase agressiva sobre o semblante da mesma? Mais: quão atraente é o libertador anonimato proporcionado pelo plano geral, em oposição à dolorosa intimidade do close? Em “Paris, Texas”, de Wim Wenders, temos justamente a trajetória de um homem que deverá encarar esse close, afinal será a partir das dramáticas imposições da moldura que ele poderá conquistar sua maturidade ou mesmo sua liberdade.

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ANÁLISE PROFUNDA – Era Uma Vez em Nova York

Era Uma Vez em Nova York (The Immigrant, 2013)

“Is it a sin for me to survive when I have done so many bad things?”

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James Gray volta a falar de família, fé e amor neste seu novo longa. Usando seu modo aparentemente “fora de moda” de contar histórias, o cineasta se mostra preocupado com os detalhes, impondo um ritmo deliberado, mantendo seu foco na polonesa Ewa Cybulski (Marion Cotillard), uma mulher infeliz recém-chegada nos EUA, que aprende logo de cara como é difícil alcançar o tão desejado sonho americano. É um trabalho muito inteligente e maduro, onde Gray consegue extrair certo otimismo de algo tão frio e melancólico como “A Imigrante”.

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Especial – Nações: Alemanha – O Enigma de Kaspar Hauser (1974)

Bem-vindos ao novo espaço do Identidade Cinéfila: Especial – Nações. O Cinema sob o ponto de vista de dezenas de países diferentes, à luz de diversas épocas e correntes. Cada editor (Bruno, Francisco e Paula) escolherá um filme correspondente à cada nação, e escreverá em um dos formatos utilizados no site: Análises Profundas, artigos ou Críticas Minimalistas.

Abordaremos os países em ordem alfabética; o primeiro da nossa lista é a Alemanha (o próximo: Argentina), começando com O Enigma de Kaspar Hauser – crítica minimalista.

Não deixem de nos visitar, já que novos posts serão adicionados em breve (curta a Fanpage também!).

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